É deplorável saber que o presidente da República foi obrigado a assumir pessoalmente a coordenação política e abrir o balcão de liberação de recursos e nomeações para evitar que os parlamentares da base aliada rejeitem projetos de interesse do governo. Esse procedimento demonstra que, no parlamento brasileiro, o que determina a aprovação das matérias não é a sua qualidade ou interesse público, mas a possibilidade de barganha do voto do deputado ou senador por recursos públicos à sua base eleitoral ou nomeação de seus apadrinhados. Talvez seja essa a razão de muitas e relevantes matérias comprometidas com o interesse público ficarem esquecidas nas gavetas do Congresso. Supostamente não geraram o nefasto favorecimento às aves de rapina e, por isso, restaram engavetadas.

Essa idéia do parlamento feito balcão de trocas causa profunda lesão à imagem dos parlamentares e da própria instituição. Afinal, todos os eleitos dispõem de salário, assessoria, moradia e recursos para o exercício do mandato. É impróprio que, além disso, ainda exijam outras vantagens para só assim cumprirem o dever de discutir e votar os projetos que lhes são submetidos.  Ao movimentarem o balcão de trocas, tanto o chefe do Executivo e sua equipe quanto os parlamentares, arrepiam a ética, pagando ou recebendo benesses para que uma obrigação de ofício seja levada a termo. Deveriam ser mais cuidadosos.

É bem verdade que nosso país sempre abrigou uma caótica vida política. Os militares derrubaram o imperador e fizeram a República. O regime sofreu muitas escaramuças, golpes e tentativas, sendo mais explícitas as quebras constitucionais de 1930 e 1964. Viveu períodos de liberalismo e de autoritarismo. Os políticos sempre foram mal vistos, chegando-se ao cúmulo de, em certos momentos, mesmo ocupando função de ordem política, os titulares de diferentes cargos se declararam apolíticos. Agora, com três décadas de democracia, nos deparamos novamente com o país em frangalhos e a classe política muito mal avaliada, mercê dos inaceitáveis expedientes e desvios apurados entre seus membros.

O governo investe em reformas, que diz inadiáveis. Contudo, mais importante do que as reformas setoriais é uma revolução ética, onde cada qual cumpra com seu dever, sem a exigência de contrapartida. Um ambiente onde os que se aventurarem a mergulhar nos terrenos da corrupção sejam exemplarmente punidos e expurgados dos mandatos, cargos ou funções para evitar contaminação do meio e, até, para que sirvam de exemplo para outros antiéticos potenciais. O Brasil tem jeito, mas o remédio pode ser amargo…

 

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

Por corumbaonline

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