As informações da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, são gravíssimas e podem desencadear um grande impacto na economia nacional, já que o Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo e vê o setor colocado sob suspeição de irregularidades das mais primárias e irresponsáveis. A se confirmarem as práticas de reprocessamento de carne “vencida” e aplicação de substâncias impróprias ou até cancerígenas para a sua maquiagem e posterior comercialização, estará destruída a reputação que o país levou décadas para construir nesse delicado e exigente segmento do comércio internacional. Na dúvida, importadores europeus e chineses já anunciam restrições ao recebimento das remessas contratadas do produto. Isso exige pressa do governo na produção de esclarecimentos que sejam convincentes e dêem segurança ao consumidor. O presidente Michel Temer sabe disso, tanto que já anunciou uma força-tarefa para fazer uma radiografia do setor.

Além dos prejuízos econômicos e do trauma que esses fatos trazem ao mercado, fica evidenciada a fragilidade nacional. Setores de tão altas responsabilidades técnicas, que envolvem mais do que a economia a saúde da população nacional e internacional, jamais poderiam ser vulneráveis à promiscuidade que agora vemos denunciada. Seus operadores deveriam ser técnicos de carreira, nunca elementos indicados por políticos e sujeitos a pressões destes e do segmento econômico a que fiscalizam, que as notícias dizem fornecer propinas aos partidos e a seus eleitos. O setor manipula saúde e precisa ter como norte exclusivamente as diretrizes técnicas convencionadas e estabelecidas por lei. Não pode receber interferências de quem quer que seja, muito menos admitir a existência de propina ou favorecimento de qualquer espécie. É, acima de tudo, a questão ética, infelizmente a cada dia mais ignorada no Brasil.

Toda a carga de informação produzida nos últimos dias, tanto pelas acusações da operação policial quanto pela defesa dos acusados e suas entidades, leva diretor à desconfiança. Depois de ler e ouvir todos os lados, é impossível formar-se um juízo. Cabe ao governo, por seus órgãos técnicos e com boa estratégia de comunicação, revelar de forma absolutamente transparente à população e ao consumidor estrangeiro da carne brasileira o que realmente existiu e, além de tomar as medidas cabíveis contra os errantes, revelar quais as providências adotadas para sua punição e, principalmente, para que as irregularidades não se repitam.

O Estado brasileiro carece de mais ampla reforma, começando pelo desaparelhamento político do serviço público. Há que se observar a separação harmônica dos poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – de forma que cada qual cumpra suas funções. Em todos os malfeitos de que se tem conhecimento não há como se ignorar a presença do promíscuo sistema político de coalizão. Isso precisa acabar…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

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