Dante Filho

O PSDB vem celebrando nos últimos dias o poder de atração que o partido vem exercendo no ambiente político sul-mato-grossense.
 
O ex-governador Reinaldo Azambuja está ganhando destaque na imprensa por articular a adesão de 51 prefeitos do Estado ao tucanato. Das 78 municípios, 65% estão vinculados ao peesedebismo. Foguetório.
 
Com isso, alguns setores da mídia tem destacado o feito como resultado da musculatura obtida pelo partido a partir do momento em que o ex-governador conseguiu o feito inédito de eleger seu sucessor.
 
De fato, Azambuja está numa boa fase, acertando ao aproveitar o momento para exercer seu poder de mobilização, principalmente porque seu ungido tem sido bem sucedido, fazendo um Governo acima da média, dando passos que indicam que as próximas gerações colherão frutos de uma gestão apetrechada com nomes técnicos de primeira grandeza, graças a uma política de responsabilidade fiscal colocada em prática nos últimos três anos e ao manejo equilibrado dos grupos de interesse que atuam no plano da nossa realidade da representação institucional.
 
Já lá se vão mais de 6 meses de administração e nenhuma crise grave – o que é raro em se tratando do manejo do quadro político local – aconteceu, a não ser em questões pontuais, que foram encaminhadas a bom termo até agora.
 
Mas Azambuja também erra quando esquece de olhar para a história, até para compreender que hegemonia numérica pouco significa, tomando como exemplo o MDB, que um dia teve nas mãos a quase totalidade dos prefeitos e, em pouco tempo, foi tragado por autofagia com os turbilhões de interesses divergentes e com escândalos sucessivos de corrupção, levando à prisão inclusive sua principal liderança, o ex-governador André Puccinelli.
 
Reinaldo deve refletir e ponderar sobre o passado. A adesão de prefeitos ao tucanato não é por amor, nem programático muito menos ideológico. São interesses momentâneos, ditados muitas vezes por políticas miúdas e paroquiais. Podem perdurar no tempo desde que o partido se mantenha no poder e tenha também o aval garantidor do atual incumbente do Parque dos Poderes.
 
No entanto, é preciso considerar que manter essa massa de interesses no jogo vai custar muito caro. Tomara que isso não resvale para o desiquilíbrio fiscal do Estado, porque campanhas eleitorais muito disputadas levam seus agentes perderem a noção das coisas.
 
A construção de boas políticas e a colheita de resultados- principalmente aquelas que envolvem projetos de longo prazo – devem ser comemoradas com humildade, desapego e ausência de vaidade. É difícil, mas não impossível. 
 
Azambuja às vezes parece apegado demais às lembranças de seu governo, sem compreender que o Governo de Eduardo Riedel é de continuidade e não de ruptura, o que pode, dependendo de circunstâncias específicas, cobrar um preço alto demais da coalização partidária que tornou possível sua vitória nas ultimas eleições. Reconheço que Azambuja é um sucesso, mas devia ser um pouco mais discreto.
 
Logo abaixo os leitores poderão avaliar oss quadros relevantes que demonstram a complexidade da conquista da chamada “hegemonia” da política sul-mato-grossense. No fundo, no fundo, o processo hegemônico depende de um consenso amplo em uma sociedade estável, o que não é o caso, visto que Mato Grosso do Sul ainda é uma unidade da federação em formação, situada numa geografia estratégica, embora com uma demografia pouco dinâmica, apesar de uma economia com boas perspectivas de crescimento.
 
Neste aspecto, “hegemonia” tem a a ver com a base representativa e de como essa base faz conexão com subjetividades como, por exemplo, sentimento de pertença, padrão social, mentalidade fixa, valores culturais, imprensa atuante, e também com objetividades, como estruturas público e privada com capacidade de gerar renda, produtividade e tecnologia, além de projetos eficazes de curto, médio e longo prazos.
 
A “hegemonia” representativa é importante nesse processo. Mas não significa que ter muitas prefeituras do mesmo partido possa representar um bloco hegemônico de poder. Neste aspecto, é preciso analisar e compreender o padrão de representatividade de cada partido.
 
Os partidos sul-mato-grossenses que hoje tem representatividade formal no Estado são apenas 6 (PSDB, MDB, PP, Patriota, PL, PSOL). Cruzando os dados, o PSDB administra municípios que reúnem 40% do eleitorado, mesmo estando filiados ao partido 51 prefeitos.
 
O PP da Senadora Tereza Cristina – ainda a primeira força política do Estado – tem 19 prefeitos, que administram municípios que englobam quase 53% do eleitorado.
 
Assim, é possível concluir que em termos do conceito de hegemonia representativa o PP é uma força expressiva, que pode representar uma contraforça nas próximas eleições, podendo ou não ser um óbice às pretensões tucanas.
 
As duas maiores prefeituras do Estado administradas pelo PP – Campo Grande e Dourados – concentram mais 40% do eleitorado de MS. Nesse sentido, é preciso reconhecer que a filiação da prefeita Adriane Lopes ao partido da senadora Tereza Cristina foi uma jogada esperta, o que, de pronto, a coloca no jogo sucessório da Capital com chance de sucesso.
 
Até o momento, é preciso considerar que muito do processo eleitoral do próximo ano passará pelas mãos do triunvirato hegemônico- Reinaldo, Ridel e Tereza -, todos olhando para o momento e para o futuro. 

Por Da Redação