“O site vai trazer informações sobre a trajetória de mulheres importantes na área da Informática. Uma delas é Ada Lovelace, responsável pela criação do algoritmo usado no primeiro computador da história. Com esses modelos, nós pretendemos estimular mulheres a atuar nessa área”, explicou a estudante Laís.
Em uma das etapas do estudo, as estudantes aplicaram um questionário com 164 estudantes e profissionais da área de TI de Aquidauana, entre homens e mulheres. Alguns dados reforçam a desigualdade de gênero na área.
“As respostas mostram que os homens entram na área porque já tinham interesse, já a maioria das mulheres cai de paraquedas nos cursos de Informática. Algumas estudantes e profissionais também relataram que se sentem isoladas, e que veem uma diferença de tratamento entre homens e mulheres”, destacou a estudante do IFMS.
O próprio orientador do TCC, Diego Sant’Ana, confirma o baixo interesse de mulheres em cursos de graduação na área.
“Quando entrei na faculdade de tecnologia em Sistemas para Internet, em 2007, a turma era formada por 40 estudantes, dos quais apenas oito eram mulheres. Por ser uma graduação bastante puxada e que exige dedicação, poucos se formam. Na minha sala, só três concluíram os dois anos e meio de curso, sendo que nenhuma aluna chegou ao final”.
Ao pesquisar o assunto, as estudantes encontraram duas explicações para a predominância de homens no setor de TI. “Culturalmente, meninas sempre foram estimuladas a brincar de casinha e os meninos a usar o raciocínio lógico. Além disso, quando o computador foi criado, a propaganda era voltada ao público masculino”.
Laís e Geovanna resolveram se aprofundar no tema porque fazem parte de um grupo de robótica formado só por meninas, e nas competições observaram a baixa participação feminina.
Pelo bom desempenho na análise de controle da qualidade de produtos, a estudante do IFMS recebeu a proposta de ser contratada para trabalhar na unidade de Brasília (DF).
“Eles queriam preencher a vaga de imediato, e eu optei por continuar em Corumbá para terminar o curso no IFMS. Além disso, pretendo seguir com os estudos na área, vou tentar ingressar no curso superior de Engenharia Metalúrgica, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ou Processos Metalúrgicos, aqui no IFMS”, planejou Maria.
A estudante tem como modelo as três professoras de Metalurgia do IFMS, de um total de nove docentes da área. Uma delas é Paula da Silva Fernandes, que dá aulas de Metalurgia Extrativa.
Graduada no curso de tecnologia em Materiais/Fabricação Mecânica pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Paula fez mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). O interesse pela área tem uma forte relação com uma memória da infância.
“Meu pai fazia muitas viagens para mineradoras e trazia amostras de minerais, o que me encantava. Além disso, nas duas faculdades que fiz – Materiais, no IFRN, e Ecologia, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – eu me interessei por geologia e mineração”.
No mercado de trabalho, Paula sentiu o preconceito na pele. “Ouvi de homens da área que, por ser mulher, eu não eu aguentaria as viagens e o trabalho em regiões áridas. Esse cenário mudou um pouco, mas ainda precisa avançar. E nós, professoras da área, temos que servir de modelo para nossas estudantes”, pontuou.
Em uma tentativa de reduzir essa desigualdade de gênero, Paula desenvolveu, em 2014, o projeto “Combatendo a Invisibilidade Feminina nas Áreas Exatas e Tecnológicas e no Mercado de Trabalho”, que contou com a colaboração da professora de Sociologia, Carmem Moretzsohn Rocha, atualmente em atuação no Campus Dourados do IFMS.
Na época, estudantes dos níveis médio e superior do Corumbá foram convidadas a debater a questão, e tinham contato com profissionais bem-sucedidas na área, o que Paula chama de ‘modelos inspiradores’.
”Um dos desafios é melhorar a autoestima das meninas que querem ingressar na área da Metalurgia. Sempre digo às minhas alunas que não desistam, e que sejam as melhores na equipe que forem atuar”, reforçou Paula.