No dia seguinte ao fim da COP-28, o leilão de petróleo realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), na manhã desta quarta-feira no Rio de Janeiro, foi marcado por uma forte procura e disputa das empresas por áreas em diversas regiões do Brasil. O 4º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão gerou um bônus total de R$ 421,712 milhões. Foram arrematados quase 32% das áreas: 192 blocos foram adquiridos de um total de 602. Ao todo, 19 empresas se comprometeram a investir no mínimo R$ 2,012 bilhões.

Petrobras, Shell e Chevron levaram dezenas de blocos em alto-mar na Bacia de Pelotas, no Rio Grande do Sul. A novata Elysian arrematou mais de 100 blocos nas bacias de Potiguar, no Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Sergipe-Alagoas. O certame contou ainda com a participação de companhias da Austrália, China e Noruega.

Petrobras mira no Sul

A Petrobras também mostrou que está buscando explorar novas áreas de petróleo no Brasil enquanto o Ibama não apresenta a sua decisão sobre a perfuração do primeiro poço na Bacia da Foz do Amazonas, na polêmica Margem Equatorial, entre o litoral dos estados do Amapá e Rio Grande do Norte.

Por isso, a estatal apostou suas fichas na bacia de Pelotas, em águas profundas no litoral do Rio Grande do Sul. A área é considerada de nova fronteira, pois ainda não há exploração. A estatal já havia perfurado águas rasas em Pelotas no início dos anos 2000.

Na manhã desta quarta-feira, a estatal levou 29 blocos na bacia. Para isso, selou dois consórcios: um com a Shell (com participação de 30%) e a chinesa CNOCC (20%) – a estatal tem os 50% restantes; e outro apenas com a Shell (30%) – nesse caso, a Petrobras tem 70%.

No chamado setor AUP4 em Pelotas, a Petrobras levou todos os cinco blocos que disputou com a americana Chevron. A Chevron levou também outras cinco áreas das dez que fez oferta. O ágio chegou a 142,73%.

No setor AUP3, a Petrobras também voltou a apostar nos mesmos consórcios para oito blocos. A estatal levou todas as oito áreas. No setor AUP8, a Petrobras também fez duas ofertas em parceria com os mesmos consórcios. No setor AUP7, a Petrobras levou sete blocos no consórcio formado com a Shell. Já no setor AP1 também no Sul, apenas a Chevron fez oferta para nove blocos. O ágio chegou a 463,85%, mesmo não tendo concorrentes.

No setor AUP2, em Pelotas, o consórcio entre Petrobras e Shell levou seis blocos. A Chevron conquistou apenas um. Nesse setor, houve disputa em seis dois oito blocos. O ágio chegou a 252,66%.

Petróleo no Sul com eólica em alto-mar

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, destacou que a estratégia da empresa é buscar uma diversificação. Para ele, a conquista de 29 blocos vai elevar a área de exploração da estatal dois atuais 30 mil quilômetros quadrados para 50 mil quilômetros. Prates destacou que a ideia do investimento em Pelotas é fazer projetos conjuntos de energia eólica em alto-mar.

— Tivemos um aproveitamento de 100% e com parceiros que conhecem a exploração em águas profundas. Queremos produzir petróleo mais descarbonizado — disse Prates, lembrando que os contratos devem ser assinados no primeiro trimestre de 2024. — É importante diversificar as áreas exploratórias e precisamos repor nossas reservas para produzir pela próximas décadas. Se não produzirmos, teremos que importar.

Prates lembrou ainda que espera ao longo do ano que vem iniciar a perfuração do primeiro poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas.

— Atendemos a todas exigências do Ibama. Respeitamos o órgão ambiental e estamos prontos para atender. A meta é explorar no fim do primeiro semestre de 2024 ou no segundo semestre — afirmou Prates.

Com a parceria com a Petrobras, Cristiano Costa, presidente da Shell no Brasil, disse que a empresa vai passar de 39 contratos para 68, após arrematar em parceria com a Petrobras 29 blocos. Ele destacou a parceria com a estatal e a importância de se abrir novas fronteiras e desenvolver novas reservas.

— Ganhamos todos os blocos que participamos. O Brasil continua sendo muito importante para a empresa e estamos aumentando a nossa participação. O resultado é positivo para o governo pois há a participação de vários atores no leilão — disse Costa.

Segundo especialistas, a conquista em Potiguar reflete as boas perspectivas das reservas, já que estudos indicam potencial em áreas presentes no Uruguai e na Namíbia, na costa africana.

Bacia de Santos sem Petrobras

Na bacia de Santos, a australiana Karoon levou dois blocos e a chinesa CNOOC uma área. A Equinor venceu a BP e levou outro bloco, o que gerou um ágio de 432,82%. Na bacia do Paraná, apenas um bloco foi arrematado pela Blueshift.

Na bacia de Potiguar, no Rio Grande do Norte, as áreas em alto-mar, que ficam perto de Fernando de Noronha, não receberam ofertas. Na bacia de Tucano, na Bahia, a Imetame levou três blocos.

Elysian leva 122 blocos

Já nos blocos em terra de Potigar, a novata Elysian levou 99 blocos. Em seguida, a PetroVictory levou três áreas, a Petrorecôncavo outros dois e a 3R Areia Branca mais três.

Na Bacia do Espírito Santo, a Elysian também se destacou. A empresa levou mais 10 blocos. Segundo dados da ANP, a Elysian foi habilitada para participar do leilão de hoje no último dia 15 de agosto de 2023. Em Sergipe-Alagoas, a Elysian levou ainda mais 13 blocos. Ao todo, a empresa mineira arrematou 122 blocos. A empresa é comandada pelo empresário Ernani Jardim de Miranda Machado e foi criada para participar do certame.

Amazonas tem áreas arrematadas

A primeira área a ser ofertada no 4º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão foi a de Jappim, na Bacia do Amazonas, considerada de acumulação marginal. A Eneva e a Atem, que comprou a refinaria de Manaus da Petrobras, fizeram uma oferta conjunta. Segundo a ANP, o consórcio levou a área com R$ 165 mil de bônus de assinatura. O investimento mínimo na área é de R$ 1,2 milhão.

ederico Miranda, diretor de Exploração da Eneva, diz que Japiim é uma área adjacente ao campo de Azulão e aos três blocos exploratórios na região.

— A área de acumulação marginal de Japiim foi uma descoberta já realizada, com teste de formação comprovando a existência de gás. Então, o aproveitamento de um recurso natural já descoberto há mais de uma década, não utilizado.

No Amazonas, a Atem, dona da refinaria local, levou quatro blocos considerados sensíveis do ponto de vista ambiental. Segundo Julio Bueno, do Instituo Arayara, as áreas têm sobreposição sobre unidades de conservação e parte deles está dentro do raio de restrição de terra indígena.

— Uma das áreas é a mais crítica pois parte do bloco esta em cima da área de Manaus e no encontro dos rios mais importantes da Amazônia, o Rio Negro e Solimões. Estamos chocados.É o pior leilão da história do país — disse Bueno.

Ele destaca ainda preocupação com o bloco de Santa Catarina, próximo da área indígena da etnia Xokleng.

Entenda o leilão

O leilão envolve a oferta de 602 blocos exploratórios divididos em 33 setores por nove bacias sedimentares, como Amazonas (em terra), Espírito Santo (em terra), Paraná (em terra), Pelotas (Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em mar), Potiguar (Rio Grande do Norte e Ceará, em terra), Recôncaco (na Bahia, em terra), Santos (mar), Sergipe-Alagoas (em terra) e Tucano (Bahia, em terra).

Por G1